RECICLAGEM E ARTE PROMOVEM INCLUSÃO SOCIAL
Projeto Cor da rua no Glicério emprega população de risco.

O portão da casa entreaberto explica a proposta do projeto idealizado pela OAF (Organização Auxilío Fraterno), uma ONG que recebe jovens em situação de risco social, em sua maioria entre 14 e 20 anos, e ensina-lhes um novo ofício, como transformar materiais descartados em sofisticadíssimos utensílios domésticos.

O projeto social começou há 30 anos, através de uma mobilização para servir sopa aos moradores de rua, na região do Glicério. Os ingredientes da sopa eram oriundos das sobras da feira de rua, que ocorria próxima do local às quartas-feiras. Tempos depois, esses voluntários perceberam que poderiam utilizar as caixas de madeira em que vinham embaladas as frutas, para improvisar barracos e móveis. Estava nascendo o projeto: “A arte que vem da rua”, arte e oportunidade aos que encontram na reciclagem, a matéria-prima para seu desenvolvimento.Your browser may not support display of this image.
Conversei hoje, com a responsável pelo programa. Gisele Corrêa é jornalista e coopera com a instituição localizada na rua dos Estudantes. O dia parece agitado para ela, enquanto atende algumas estudantes interessadas no trabalho da ONG. Logo mais, passa a dividir sua atenção com um comerciante interessado em revender os itens de decoração. Espalhados de um jeito harmônico pela casa, espelhos, bancos, cadeiras, mesinhas, lustres, porta-joias, tudo com acabamento delicado e detalhes feitos com pastilhas de vidro, o que deixa cada peça com um ar de exclusiva.
Enquanto Gisele encaminha alguns móveis que seriam fotografados por uma revista de decoração, eu me esbaldo com tantos detalhes elaborados pelos artistas anônimos do Glicério. É possível ouvir a conversa deles na oficina, que fica na parte do fundo da propriedade, um casarão antigo com grandes janelas e sacadas por onde o sol adentra o recinto. Tudo ali parece ter beleza e a história sobre a aquisição deste imóvel não foge à regra.
Nos anos 80, um grupo de italianos passeava no Brasil (nessa época o projeto já existia, mas em uma casa vizinha). Estava no grupo uma jovem que havia recebido certa herança de seu pai com a seguinte recomendação: “Parte da herança deve ser destinada para obra de caridade”, a jovem comprou o imóvel e dôo. Esta que seria a nova sede do projeto “Cor da rua”. Por este motivo existe, na parede próxima da entrada, um quadro com a foto de Peppino Prisco uma homenagem ao generoso italiano por sua colaboração póstuma.
Vejo um quadro exposto na sala com a seguinte escrita : “A vida se renova”. Gisele, minutos antes havia dito: “Assim como as pessoas descartam materiais que poderiam ser utilizados, a sociedade descarta pessoas que precisam de uma oportunidade de restauração”. A miséria e a degradação do centro da cidade podem ser encaradas como um raio-x da nossa sociedade e da desigualdade brasileira. “Os catadores não recebem pelo material recolhido, a recompensa está em ver aquilo que trouxe ser transformado em algo bonito e sentir que são parte disso”, conclui Gisele.



“Deveria ter um a cada esquina”, diz Amanda Silva que é estudante de arquitetura e urbanismo no Mackenzie, projetos como Cor da Rua devolvem às pessoas o sentido da vida, não somente para quem está sendo ajudado, mas para todos que sentem que poderiam fazer mais em favor da cidade.
Norman Martins
Fotos: Aline Maira Silva Corrêa

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