um estrangeiro

Na esquina de uma rua movimentada na Tuiuti, conheçi um hippie. Ele me chamou quando estava passando a sua banca de artesanato. Eu cheguei mas perto, curiosa sobre ele. Eu tenho uma fascinação grande pelo estilo de vida dos hippies. Quantas vezes não queria largar o meu trabalho, e ficar o dia inteiro conversando e fazendo artesanato. Seria um sonho. Eu acho que eles conheçem muito bem o que é viver em uma communidade. Pelo menos, pelo o que tenho observado.
Então ele pegou a minha mão e me deu um beijo. Só tinha visto isso em cenas de filme, aonde um cara brega, normalmente francês, fazia a mesma coisa. Só que não foi brega, me tocou de uma maneira que não tenho sentido recentemente.
Me senti respeitada. Como se fosse um dama de corte, só que no dia estava com cabelo bagunçado e cara de cansada.
Percebi que ele tinha um sotaque diferente, e enrolava os "r's" e quando ele começou a perguntar aonde eu morava, aprovetei para descobrir de onde ele era. Um Argentino, também só podia ser, porque nenhum Brasileiro iria me beijar na mão.
Eu compartilhei, bem timidiamente, que eu estava aprendendo o espanhol. Ele começou a conversar comigo em espanhol me perguntando se preferia borboletas ou estrelas. "Mariposas!" ele me informou, e eu disse que concerteza as borboletas.
Já que não tinha como eu comprar algo dele (estava sem dinheiro) ele me fez um anel mesmo assim de arrame. Aos poucos, foi formando uma borboleta, e ele me explicou que a borboleta era especial, era algo eterno.
Não entendi muito bem o que ele quis dizer, eu queria muito falar pra ele que eu já conhecia Algo muito mais eterno. Mas quando eu finalmente tive a coragem de falar algo, ele já tinha terminado de fazer a borboleta.
Senti receio de deixar aquele momento, mas sabia que estava muito timida para puxar papo com ele. Foi então que nós nos despedimos, cumprimentando-lo e eu disse pra ele que eu iria procurar ele de novo.
Não tenho visto ele mais.
Eu já disse que queria ser uma hippie?